A arquitetura de Tavira antiga é fruto da influência das tradições e técnicas de construção dos vários povos que a habitaram, assim como da Natureza, através dos materiais e ocorrências naturais que a marcaram (terramotos, incêndios etc.).
A herança Muçulmana está presente em variados pormenores arquitetónicos como a existência de pátios, chaminés, azulejos, reixas nas portas e na luminosidade das edificações. Na arquitetura árabe a luz desempenha um papel muito importante, para além dos aspetos operacionais. O seu carácter simbólico e artístico está ligado á religião e às crenças espirituais.
O seu profundo conhecimento das ciências medievais e da filosofia aplicava-se às construções, utilizando técnicas e materiais para a criação de espaços frescos, calmos e introspetivos, cheios de luz e sombra. As portas e as janelas têm, neste contexto, uma função muito importante.
As portas têm olhos
Nas casas Tavirenses, baixas e com a escala Humana dos seus dois ou três andares, no máximo, as portas e janelas são elementos de comunicação com o exterior e têm diversas funções, para além de delimitarem e de protegerem.
As portas embelezam a casa e caracterizam a sua tipologia ou função.
Protegem-na do sol, do calor e da chuva, modelam a luz, promovem a ventilação, afastam os olhares indiscretos.
Identificam a casa, recebem cartas, permitem ver e ouvir através das reixas a vida que passa, assinalam e reconhecem as visitas através das pancadas dos batentes ou aldrabas. Simples ou mais ricas, são naturalmente em madeira e vivas como a Natureza.
As aldrabas e as aldrabices
As aldrabas têm duas funções (bater na porta e trancá-la) e os batentes apenas batem na porta. A palavra aldraba deu origem ao termo árabe aldrabar, cujo significado mais corrente é enganar.
O vocabulário do Algarve está repleto de palavras de origem árabe, originando grande identidade e expressividade. A palavra aldrabar também originou “aldrabo”, que significa remendo ou ponto mal-feito.
Os batentes das portas
Na zona de Tavira a voz era muito utilizada para comunicar ou indagar a presença de alguém. Sons agudos e altos (brados) ainda hoje utilizados pelos vendedores de Boliiiiiiiiinhas de Berlim na praia.
Os batentes, cuja função era substituir a voz, apresentam, tal como as aldrabas, diversos estilos, formatos e materiais. O tipo e o número de pancadas na porta identificavam a casa almejada. Um dos batentes mais comuns é a mão fechada, cuja origem não é consensual embora seja plausível que tivessem surgido no final do século XIX, seguindo influência Francesa.
Portas Slow
As portas de Tavira também servem para ver quem passa, conversar, apanhar o sol morno ou a brisa fresca no final da tarde.
Afinal, prazeres tão simples e mediterrânicos, que tornam o tempo mais lento e feliz.
